quarta-feira, 21 de abril de 2021

CAPELA DE SÃO ROQUE - CEM ANOS DE MUITO FUTURO

A capela de São Roque, situada em Lagos da Beira, foi mandada construir por António Augusto Carvalho Monteiro, sob projeto de Luigi Manini, arquiteto e cenógrafo italiano com vasta obra em Portugal. Destaque para a quinta da Regaleira em Sintra, encomendada pelo distinto milionário com origens em Lagos da Beira e Lajeosa. Reúnem-se aqui alguns conhecimentos sobre a história e importância deste templo.

CAPELA DE SÁO ROQUE

1 - CAPELA DE SÃO ROQUE E SÃO SEBASTIÃO

No Séc. XIX existia em Lagos da Beira uma pequena capela dedicada a São Roque e São Sebastião. Pouco se sabe sobre essa capela, mas segundo a tradição oral, ficava situada na atual praça de São Roque e seria uma construção dos finais do Século XV. A capela é mencionada num documento datado de 13 de abril de 1811, elaborado pelo Reverendo Pedro Mendes Pinto e assim intitulado: “Relação dos roubos, incêndios, homicídios, destruições ruínas que praticaram os sacrílegos bárbaros franceses nesta igreja de Lagos da Beira, capelas e povos anexos à freguesia”. Aqui pode ler-se o seguinte:

“ Na capela de S. Sebastião e S. Roque, no meio da vila, despedaçaram as portas e o mesmo fizeram na vila a todas as casas.”

Este relatório responde a uma circular enviada pelo Bispo Conde Reitor Reformador da Universidade de Coimbra, D. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho. Pretendia-se saber tudo sobre as atrocidades praticadas pelos exércitos do General Massena em retirada e perseguidos de perto pelas tropas anglo-lusas.

No inventário dos prédios e outros bens pertencentes à junta da paróquia da freguesia de Lagos da Beira, datado de 06 de maio de 1870 consta o seguinte:

Capela de São Roque – Uma capela em sofrível estado material, composta de um altar e sacristia. Tem um adro e um campanário com um sino pequeno. Não tem bens. 

Isto não seria muito correto, visto que, dois anos depois, no Inventário dos paramentos, vasos sagrados e mais utensílios destinados ao culto, datado de 29 de Setembro de 1872, podemos ler:

“Um cálice de estanho com copa e patena de prata usada, que pesa 687 gramas; um véu do cálice branco, usado; um dito, encarnado, usado; uma bolsa dos corporais, branca e encarnada, usada; duas alvas com seus pertences, muito usadas; seis castiçais e cruz de pau dourado, muito deterioradas; três toalhas do altar muito usadas, e dois manustérgios; uma lâmpada velha e um Missal muito usado; uma galheta com seu prato de estanho; uma campainha de tocar a Santos”. 

Verifica-se que a capela possuía tudo o que era necessário à celebração da missa. A omissão destes bens no primeiro inventário pode dever-se ao facto de tudo estar já em mau estado de conservação.

PRAÇA DE SÃO ROQUE - LOCALIZAÇÃO DA ANTIGA CAPELA. A DOMINAR A PRAÇA PODEMOS VER A CASA DA FAMÍLIA MONTEIRO. 

2 – O MONTEIRO DOS MILHÕES

Quando o multimilionário António Augusto Carvalho Monteiro quis ampliar uma das suas muitas quintas, deparou-se com o obstáculo da velha capela de S. Roque e S. Sebastião. Requereu então à Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, sendo presidente António Freire de Carvalho Albuquerque, autorização para demolir a capela e construir uma nova onde hoje está. A requisição consta na ata da sessão de 9 de Julho de 1897 e a autorização foi concedida. O povo aceitou de bom grado a demolição, visto que a capela arruinada seria substituída por outra com os mesmos padroeiros.

António Augusto Carvalho Monteiro nasceu no Brasil a 27 de novembro de 1848. era filho de Ana Thereza Carolina de Carvalho e do lagoense Francisco Augusto Mendes Monteiro. Herdou do seu pai uma fortuna imensa e, tal como ele, era profundamente dedicado a Lagos da Beira. Dando cumprimento ao prometido, o Dr. Carvalho Monteiro mandou edificar um novo templo, consagrado apenas a São Roque, embora a imagem de São Sebastião também lá esteja. Ficou encarregado do projeto o seu amigo cenógrafo e arquiteto italiano Luigi Manini, autor da sua quinta da Regaleira em Sintra e do Hotel-Palácio do Buçaco.

ANTÓNIO AUGUSTO CARVALHO MONTEIRO E LUIGI MANINI

Os trabalhos foram iniciados e concluídos entre 1900 e 1910. Todavia, inexplicavelmente o novo templo demorou a ser entregue, a tal ponto que na sessão de 23 de Março de 1919 o presidente da Junta de Freguesia de Lagos da Beira propôs que a mesma se dirigisse ao Dr. Carvalho Monteiro, pedindo-lhe, com todo o respeito, que se dignasse entregar a nova capela à Igreja e ao povo. A capela nova terá sido inaugurada em 1920, ano da morte de Carvalho Monteiro ou no ano seguinte.

A demora na entrega da capela às autoridades eclesiásticas e ao poder local, poder-se-á explicar pelo período conturbado que varria o país após o regicídio e implantação da República. Note-se que António Augusto Carvalho Monteiro, profundamente católico e monárquico, era amigo pessoal do Rei Dom Carlos, assassinado em 1908. Assim, também ele foi vítima da violência que se abateu sobre a Igreja Católica, chegando a estar preso e julgado no Tribunal da Boa-Hora em 1913. Com o quinto Presidente da República, almirante João do Canto e Castro da Silva Antunes, que aliás era Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, tal como o pai de Carvalho Monteiro, houve um período de acalmia e pazes com a Igreja Católica que, certamente, foi aproveitado para entregar a capela de S. Roque de Lagos da Beira aos seus legítimos destinatários.

CAPAELA DE SÃO ROQUE - VISTA DE VÁRIOS ÂNGULOS

3 – A CAPELA NOVA

3.1 – UM TETO CHEIO DE SIMBOLISMO


"Este pequeno templo é uma joia do imobiliário artístico português, no qual o autor procurou um marcado efeito cenográfico. A pintura do teto de madeira pentagonal, irradiando por cima do altar, dá ao espaço um sentido de amplidão maior do que possui, efeito feliz procurado por Carvalho Monteiro e realizado por Luigi Manini. As figuras pintadas são no estilo da Renascença e do Barroco italianos, vendo-se aos pares, em cada caixilho, duas cabeças de Anjos, uma lateral e outra frontal, saindo desta a Taça Eucarística por certo representando o Santo Graal. Também aos pares, noutros dois caixilhos, revela-se uma cabeça de Anjo frontal sobre a qual domina uma cornucópia com frutos e flores, símbolo da abundância e da riqueza tanto material como espiritual.

ALTAR DA CAPELA COM O SEU TETO PINTADO POR LUIGI MANINI

Finalmente, no caixilho central vê-se o pelicano alimentando os seus filhotes e que é o emblema franciscano da Eucaristia prenunciando o derradeiro Sacrifício do Senhor. O simbolismo do Sacro Pelicano ou Pelicano Eucarístico alimentando os seus filhotes com a sua própria carne, foi adotado pelos franciscanos a partir do século XIII como representação da Abnegação, da Caridade e do Amor Paternal. Por esta razão, a iconografia cristã medieval fez dele um símbolo do Cristo Pascal, ainda que exista uma outra razão mais profunda. Símbolo da natureza húmida que, segundo a Física antiga, desaparecia sob o efeito do calor solar e renascia no Inverno, o pelicano foi assumido como figurativo do sacrifício e morte de Cristo e da sua ressurreição. Por isto, é que a sua imagem às vezes equivale à da fénix, a ave mítica que morre no fogo e renasce das próprias cinzas" (Adaptado de Lagos da Beira e a Família Carvalho Monteiro – Por Vitor Manuel Adrião). Este simbolismo surge também na quinta da Regaleira, ou não fosse tudo do mesmo autor.

PELICANO ALIMENTANDO OS FILHOTES NA CAPELA DE SÃO ROQUE E NA CAPELA DA QUINTA DA REGALEIRA - SINTRA


3.2 – OS SANTOS

No interior da capela podemos observar as imagens de alguns santos muito ligados às devoções particulares de António Augusto Carvalho Monteiro, que também encontramos na Quinta da Regaleira, como Santo António (não como é representado habitualmente com o Menino, mas com a Cruz, trajando o hábito franciscano) e Santa Teresa de Ávila. Além destes, há ainda outros dois prendendo a nossa atenção. São eles São Sebastião e São Roque.

SANTO ANTÓNIO, SANTA TERESA, SÃO SEBASTIÃO E SÃO ROQUE

3.2.1 – Santa Teresa de Ávila

Teresa de Ávila, conhecida como Santa Teresa de Jesus (28 de março de 1515 — 4 de outubro de 1582), nascida Teresa Sánchez de Cepeda y Ahumada, foi uma freira carmelita, mística e santa católica do século XVI, importante por suas obras sobre a vida contemplativa e espiritual e por sua atuação durante a Contra Reforma. Foi também uma das reformadoras da Ordem Carmelita e é considerada co-fundadora da Ordem dos Carmelitas Descalços, juntamente com São João da Cruz.

Em 1622, quarenta anos depois de sua morte, foi canonizada pelo papa Gregório XV. Em 27 de setembro de 1970, Paulo VI proclamou-a uma Doutora da Igreja e reconheceu seu título de Mater Spiritualium (Mãe da Espiritualidade), em razão da contribuição que a santa proporcionou à espiritualidade católica. Seus livros, inclusive uma autobiografia ("A Vida de Teresa de Jesus") e sua obra prima, "O Castelo Interior", são parte integral da literatura renascentista espanhola e do corpus do misticismo cristão. Suas práticas meditativas estão detalhadas em outra obra importante, o "Caminho da Perfeição".

Depois de sua morte, o culto a Santa Teresa espalhou-se pela Espanha durante a década de 1620 principalmente durante o debate nacional pela escolha de um padroeiro, juntamente com Santiago Maior.

Santa Teresa, tanto aqui como na capela da Regaleira, é uma homenagem que Carvalho Monteiro rende à sua mãe, Dona Ana Thereza Carolina de Carvalho. 

3.2.2 – São Sebastião

São Sebastião (França, 256 – 286) originário de Narbonne e cidadão de Milão, foi um mártir e santo cristão, morto durante a perseguição levada a cabo pelo imperador romano Diocleciano.

Ele teria chegado a Roma através de caravanas de migração lenta pelas costas do mar mediterrâneo. De acordo com Atos apócrifos, atribuídos a Santo Ambrósio de Milão, Sebastião era um soldado que se teria alistado no exército romano por volta de 283. Era querido dos imperadores Diocleciano e Maximiano, que o queriam sempre próximo, ignorando tratar-se de um cristão e, por isso, o designaram capitão da sua guarda pessoal, a Guarda Pretoriana. Por volta de 286, a sua conduta branda para com os prisioneiros cristãos levou o imperador a julgá-lo sumariamente como traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas. Foi dado como morto e atirado em um rio, porém, Sebastião não havia falecido. Encontrado e socorrido por Irene (Santa Irene), apresentou-se novamente diante de Diocleciano, que ordenou então que ele fosse espancado até a morte. Seu corpo foi jogado no esgoto público de Roma. Luciana (Santa Luciana) resgatou seu corpo, limpou-o, e sepultou-o nas catacumbas.

O bárbaro método de execução de São Sebastião fez dele um tema recorrente na arte medieval, surgindo geralmente representado como um jovem amarrado a uma estaca e perfurado por várias setas

3.2.3 – Santo António

Santo António de Lisboa, também conhecido como Santo António de Pádua (Lisboa, 15 de agosto de 1195? — Pádua, 13 de junho de 1231), de sobrenome incerto mas batizado como Fernando, foi um Doutor da Igreja que viveu na viragem dos séculos XII e XIII.

Pertenceu à Ordem dos Cónegos Regulares da Santa Cruz, que seguiam a Regra de Santo Agostinho, no Convento de São Vicente de Fora, em Lisboa, indo posteriormente para o Convento de Santa Cruz, em Coimbra, onde aprofundou os seus estudos religiosos através da leitura da Bíblia e da literatura patrística, científica e clássica. Tornou-se franciscano em 1220 e viajou muito, vivendo inicialmente em Portugal, depois na Itália e na França, retornando posteriormente à Itália, onde encerrou sua carreira. No ano de 1221 fez parte do Capítulo Geral da Ordem em Assis, convocado pelo fundador, Francisco de Assis. Posteriormente, quando sua eloquência e cultura teológica tornaram-se conhecidas, foi nomeado mestre de Teologia em Bolonha, tendo, a seguir, pregado contra os albigenses e valdenses em diversas cidades do norte da Itália e no sul França. Em seguida foi para Pádua, onde morreu aos 36 (ou 40) anos.

A sua fama de santidade levou-o a ser canonizado pela Igreja Católica pouco depois de falecer, distinguindo-se como teólogo, místico, asceta e sobretudo como notável orador e grande taumaturgo. António é também tido como um dos intelectuais mais notáveis de Portugal do período pré-universitário. Tinha grande cultura, documentada pela coletânea de sermões escritos que deixou, onde fica evidente que estava familiarizado tanto com a literatura religiosa como com diversos aspetos das ciências profanas, referenciando-se em autoridades clássicas como Plínio, o Velho, Cícero, Séneca, Boécio, Galeno e Aristóteles, entre muitas outras. O seu grande saber tornou-o uma das mais respeitadas figuras da Igreja Católica do seu tempo. Lecionou em universidades italianas e francesas e foi o primeiro Doutor da Igreja franciscano. São Boaventura disse que ele possuía a ciência dos anjos. Hoje é visto como um dos grandes santos do Catolicismo, recebendo larga veneração e sendo o centro de rico folclore.

Santo António é o padroeiro da cidade de Lisboa (São Vicente é o padroeiro do Patriarcado de Lisboa), sendo também o padroeiro secundário de Portugal. É igualmente padroeiro da cidade italiana de Pádua.

Santo António surge aqui com o hábito e o cordão franciscano, contemplando Cristo no Crucifixo entre as suas mãos. Pelo facto de não estar representado com o Menino, como é habitual, existe uma natural confusão com São Francisco de Assis. Santo António é homónimo de António Augusto Carvalho Monteiro e, como franciscano, é seguidor de São Francisco, por sua vez homónimo do pai. Mantém-se aqui a intenção de homenagear o seu progenitor Francisco Augusto Mendes Monteiro. Note-se que Santa Teresa de Ávila e Santo António são precisamente os santos que ladeiam a capela da quinta da Regaleira em Sintra.

SANTO ANTÓNIO E SANTA TERESA - CAPELA DA QUINTA DA REGALEIRA

3.2.4 – São Roque


Roque nasceu entre 1345 e 1350, na cidade francesa de Montpellier. Oriundo de uma família da alta nobreza, sendo o seu pai, João, senhor de grandes domínios, e sua mãe, Libera, natural da Lombardia. Roque cresceu num ambiente cristão e, desde cedo, manifestou sinais de grande humanidade e enorme generosidade. Ainda jovem, ficou órfão, pelo que decidiu confiar a um tio a tarefa de cuidar dos seus bens, repartiu uma outra parte pelos pobres e partiu como peregrino em direção a Roma.

Neste período, a peste chegou à Europa através dos portos da Itália, França e Espanha e, em poucos anos, a bactéria Yersinia pestis propagou-se pelas cidades, contagiando, debilitando e matando milhares de pessoas. Perante uma situação tão dramática, as enfermarias e os hospitais avolumaram enfermos a necessitar de cuidados. Foi neste cenário de crise e de medo, que Roque, cumprindo a sua peregrinação, decidiu ajudar muitos enfermos, aos quais reconfortava corpórea e espiritualmente desenhando sobre a testa o sinal da cruz. Em 1367, Roque chegou à cidade de Acquapendente, na província de Viterbo, dirigindo-se a um hospital para cumprir o seu voto de caridade. Retomou a sua viagem e nesse mesmo ano chega a Roma, onde cuidou de um cardeal (ou alto prelado), que, reconhecido o apresentou ao Papa Urbano V.

Permaneceu alguns anos em Roma, mas por volta do ano de 1370-1371, Roque iniciou a jornada de regresso. Em Placência alojou-se num hospital, dedicando tempo ao serviço e cuidado dos doentes, mas essa exposição originou o seu contágio.

Perante os sintomas da peste, Roque decidiu isolar-se e refugiou-se num bosque perto de Sarmato, onde foi milagrosamente alimentado por um cão que retirava todos os dias um pão da mesa do dono, Gotardo, para lho levar.

Quando recuperou da doença, resolveu regressar à sua pátria mas, ao chegar à zona de Placência, um dos locais mais atingido pelo conflito entre o Ducado de Milão, foi tomado como um dos revoltosos, sendo feito prisioneiro e passando cerca de cinco anos em cativeiro em Voghera, durante os quais padeceu inúmeros sofrimentos. A família só o reconheceu após a morte, que ocorreu a 16 de agosto, num ano entre 1376 a 1379, ao que parece graças a um sinal de nascença, tendo um tio decidido dar-lhe piedosa sepultura em Voghera.

Os restos mortais de São Roque foram trasladados para Veneza em 1483. Devido à fama dos inúmeros milagres que operara durante a sua permanência em Itália, as relíquias do Santo foram distribuídas pelas cidades de Antuérpia, Arles e Lisboa.

A sua memória litúrgica é celebrada a 16 de agosto e o povo cristão assegura que todo aquele que recorre com fervor à sua intercessão é atendido em suas súplicas, sendo essa a razão pela qual ainda hoje é considerado um poderoso advogado contra o mal da peste e de outras doenças.

"Nesta sua capela, São Roque, aparece representado aqui de forma diferente da habitual, porque ao invés e como é uso na iconografia religiosa apresentar a perna esquerda desnuda, como se pode observar na outra imagem de São Roque na igreja matriz local, aqui apresenta a perna direita. Observa-se nisto o subentendido de um simbolismo iniciático, posto a perna direita (ou solar) destapada representar o ato de avançar “a direito”, com isso abrindo um “mundo de possibilidades” que só se criam pela ação mental do idealista na matéria imediata, ao invés da perna esquerda (ou lunar) desnuda expressiva da imobilidade, do que já se realizou e assim pertence ao passado. Tem-se, pois, duas posturas antagónicas mas interdependentes, tal qual o Catolicismo com as suas duas leituras: a confessional (lunar) e a sapiencial (solar), ficando a catequese para os simples e a teologia, para não dizer gnose, para os sábios". (Adapatado de De Lagos da Beira à Regaleira - Dr. Paulo Andrade)

SÃO ROQUE NA SUA CAPELA E NA IGREJA MATRIZ - ATENTE-SE À PERNA DIREITA DESNUDA NA IMAGEM DA CAPELA

4 – A CRUZ BORDONADA


Há símbolos que se repetem na obra de Luigi Manini. Seria por vontade dele ou por indicação de Carvalho Monteiro. É o caso da cruz bordonada (pommée), que pelo seu simbolismo solar é parente da Grã-Cruz da Ordem do Santo Graal. Aparece na capela de São Roque, igualmente avistada na capela da Quinta da Regaleira, ambas sob os altares, e surge também no Jazigo da família Carvalho Monteiro, no Cemitério dos Prazeres.

CRUZ BORDONADA - CAPELA DE SÃO ROQUE, CAPELA DA REGALEIRA E TÚMULO DA FAMÍLIA CARVALHO MONTEIRO

5 – CEM ANOS E MUITO FUTURO

A capela de São Roque está a festejar os seus cem anos de existência. Tem havido um interesse crescente nos últimos anos por este templo singelo, mas nem sempre foi assim. O terreno adjacente foi, durante décadas, campo de futebol. Só deixou de o ser em 1977 com a inauguração do Parque Desportivo de São Miguel. A própria capela servia de balneário e as bolas despedaçaram, de forma irreparável, os vitrais coloridos das janelas do alçado direito que ficava mesmo por trás da baliza. Efetuaram-se algumas obras de restauro nessa época. O mesmo está a acontecer atualmente e espera-se que em breve a porta da capela possa estar aberta ao culto religioso e aos turistas que a queiram visitar.

A capela de São Roque estabelece a ponte entre Lagos da Beira, e toda região, com Sintra e a quinta da Regaleira, extraordinária mansão filosófica do Senhor Milhões. Na genealogia de Carvalho Monteiro encontramos ascendentes de Lagos, Lajeosa, Lagares e outras localidades. Tudo começa em Lagos da Beira, continua no Brasil e termina na fabulosa quinta da Regaleira na também fabulosa cidade de Sintra. Por tudo isto há que acarinhar esta pequena-grande capela, terminando para já as obras de restauro e avançando em seguida para a classificação como Património de Interesse Municipal. A capela de São Roque, a par com a Biblioteca Museu Tarquínio Hall, pode ser um importante complemento ou alternativa aos outros monumentos que atraem milhares de pessoas ao nosso concelho. São turistas ávidos de cultura, ávidos de História, tudo tesouros que nós temos para dar e vender.


Tão grata memória deixou António Augusto Carvalho Monteiro em Lagos da Beira que tanto o povo quanto a edilidade e o eclesiástico nunca esqueceram o seu grande amigo benfeitor. Por motivo da sua morte, em 28 de Outubro de 1920 foi convocada uma sessão extraordinária da Comissão Paroquial com o fim exclusivo de prestar culto de homenagem à sua memória, falecido três dias antes. Referindo-se à sua morte, o presidente da Comissão Paroquial, professor José João da Fonseca (pai do ilustre poeta e investigador de História lagoense, Dr. Tarquínio Hall), afirmou ter-se perdido uma das maiores glórias desta sua terra adotiva que lhe deve tantos benefícios. Traçando o perfil do ilustre benemérito e amigo incondicional de Lagos da Beira, José João da Fonseca acrescentou: “Sua Excelência era não só um carácter filantrópico e altruísta, que albergava uma alma generosa e franca, mas também um sincero amigo da humanidade enferma e desprotegida”


FONTES

Lagos da Beira – Subsídios para a sua História – Tarquínio Hall

De Lagos da Beira à Regaleira – As Origens de António Augusto carvalho Monteiro – Paulo Andrade

Lagos da Beira e a Família Carvalho Monteiro – Por Vitor Manuel Adrião «Lusophia - Vitor Manuel Adrião Lusophia – Vitor Manuel Adrião (wordpress.com)

Teresa de Ávila – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Sebastião de Narbona – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Francisco de Assis – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

https://www.irmandadesaoroque.pt/actividades/oracao/celebracao-de-sao-roque/121-historia-de-sao-roque