terça-feira, 30 de janeiro de 2018

TARQUÍNIO HALL - CAPITULO 01

Para que não se perca a memória de um dos mais ilustres lagoenses de sempre, começa aqui uma série de artigos sobre a vida e obra de Tarquínio Hall. É uma questão de justiça e de respeito por um benemérito que amou, divulgou e defendeu a sua terra sem nada, rigorosamente nada, ter em troca. Quando vejo a sua última vontade anulada e desprezada, sinto que me cabe a mim avançar e defender o seu legado. Faço isso com espirito de missão, de amizade, de respeito e de pura justiça. Foi ele que me ensinou a amar a cultura e a buscar incessantemente o conhecimento. Foi ele que me fez ver que a cultura é a maior arma do ser humano, a maior riqueza e força de um povo. Foi ele que me disse que “nós, que buscamos o conhecimento temos o dever de dar o pouco que temos a quem tem ainda menos. É preciso nivelar por cima”.

TARQUÍNIO HALL - CAPITULO 01

Tarquínio Hall era filho de um casal de professores primários. Pessoas de elevado valor moral e dotadas de rara inteligência. O professor José João da Fonseca nasceu em Aldeia Velha, Concelho do Sabugal em 22 de fevereiro de 1890 e faleceu em 29 de junho de 1966. Dona Maria da Ressurreição Guilherme Hall nasceu em Aldeia das Dez, Concelho de Oliveira do Hospital, a 14 de fevereiro de 1888, vindo a falecer a 3 de maio de 1974. Ambos foram nomeados para o ensino primário em Lagos da Beira. Aqui se conheceram e aqui casaram em dezembro de 1914. Deste casamento resultam dois filhos. Tarquínio da Fonseca Hall, nascido a 9 de novembro de 1915 e Vírgilio Hall da Fonseca, nascido a 17 de novembro de 1925. Dedicarei um capítulo a Vírgilio Hall, outro grande benemérito de Lagos da Beira. Tarquínio Hall viria a ser um dos maiores vultos da cultura do Concelho e da região. O seu primeiro livro foi publicado no Funchal em 1945 com o título “Variações”. Abre o livro o poema “Canção” dedicado à bela ilha da Madeira. 

Prof. José João da Fonseca e Dona Maria da Ressurreição Guilherme Hall

CANÇÃO 

Ilha maravilha 
Esta linda ilha 

Serras altaneiras 
Deixando correr ribeiras 
Sob um túnel de verdura… 
- Paisagem luxuriosa 
Vestindo os montes, vaidosa, 
D’uma capa de verde escura 

Ondulações 
Irregulares 
Que inspiram canções 
Populares… 

Montes e outeiros 
Formando cumeadas 
E desfiladeiros 
De silhuetas rendadas… 

Encostas relvada 
Multicores 
Semeadas 
De casas e de flores… 

Vertentes 
Transpirando 
Nascentes 
Que se vão ligando 
- Medrando… 

Água que corre, gaiata 
Muito branca, cor de prata
Cabriolando 
E cantando 
Em cachões divinais 
Por arroios sinuosos 
Por riachos tortuosos 
Por ribeiras sensuais… 

- Verdadeira 
Maravilha, 
Esta ilha 
Da Madeira! 

Toda um jardim em flor 
A flutuar no mar, 
A segredar 
Canções d’amor 
E a ostentar 
A tela 
Mais bela 
Que Deus quis pintar!...

Tarquínio Hall

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

O ELEFANTE BRANCO

Tarquínio Hall é um dos mais ilustres lagoenses de sempre. A sua vasta obra literária é elogiada por todos os que a conhecem, desde críticos especializados até ao mais leigo cidadão. Os seus trabalhos de investigação histórica permitem conhecer o nosso passado e servem de base para o trabalho de outros historiadores. A sua intervenção política caracterizou-se pela férrea defesa da cultura, do património e dos mais desfavorecidos. Tarquínio Hall amava a sua terra tanto como seu irmão, Virgílio Hall, que nos deixou valioso legado em testamento, para além de atos beneméritos com o associativismo da Freguesia. 

Era bem conhecida a vontade de Tarquínio Hall de ver a sua casa transformada numa porta aberta à cultura e onde se preservasse o seu vasto espólio bibliográfico. Ele sonhou e a obra nasceu com pompa e circunstância a 03 de julho de 2011. Fechou portas em outubro de 2017 por vontade da nova Junta de Freguesia. Seria de prever, visto que aquela casa já era vista com maus olhos pela oposição ao executivo anterior. As despesas correntes eram continuamente contestadas e classificadas de dinheiro mal gasto. Sabemos bem que uma biblioteca numa comunidade sem hábitos literários pode parecer inútil, mas estão lá livros centenários condenados à deterioração. Serão perdas irreparáveis, mas de somenos importância para quem defende o “ter” em vez do “ser”. A exposição do museu está vista e revista. Haja boa vontade e conhecimentos para a alterar. Haja boa vontade para dinamizar o espaço com atividades culturais e recreativas. Triste é andar por muitos locais e ter que dizer a quem me pergunta que a Biblioteca Museu Tarquínio Hall fechou as portas. As frases mais frequentes que ouço e com as quais tenho que concordar, são as que dizem que é uma vergonha para Lagos e uma falta de respeito para com a memória de Tarquínio Hall. Além da cultura era uma porta aberta para o idoso que não sabe ler uma carta ou não se entende com o telemóvel, para o jovem estudante em busca de informação, para todos os que ali faziam a declaração de IRS de forma acompanhada e gratuita. Isto tudo e ainda os serviços da Junta que ali eram feitos, além do muito mais que se poderia fazer. Tudo se resume a uma porta fechada a não ser que haja planos brilhantes e inovadores para o espaço. Se o argumento é dinheiro ou falta dele, posso afirmar que dois ou três por cento do orçamento anual é suficiente para manter a casa viva. Não me parece que seja despesa condicionante de qualquer atividade. Se a cultura não é importante, então é a História que nos mostra que, qualquer povo, que despreza tão precioso bem, está condenado ao fracasso e ao esquecimento.