domingo, 5 de janeiro de 2025

HISTÓRIA DE LAGOS DA BEIRA - LAGEOSA - CAPÍTULO II

 

CAPÍTULO II – (século XII a século XV) – A Paróquia, o
Julgado e a Fidalga Dinastia dos Freire de Andrade

CRONOLOGIA DO CAPÍTULO
  • Ano 1128 – Batalha de S. Mamede. D. Afonso assume o governo do condado.
  • Ano 1139 – Batalha de Ourique. D. Afonso é aclamado rei.
  • Ano 1140 – Afonso Henriques usa o título de Rei oficialmente.
  • Ano 1143 – Tratado de Zamora. Acto de vassalagem de Afonso I ao Papa.
  • Ano 1179 – O Papa reconhece o reino de Portugal pela bula Manifestis Probatum.
  • Ano 1185 – Morte de D. Afonso Henriques. Sucede-lhe seu filho D. Sancho.
  • Ano 1211 – Morte de Sancho I, sucede-lhe Afonso II.
  • Ano 1223 – Morte de Afonso II, sucede-lhe o filho Sancho II.
  • Ano 1248 – Início do reinado de Afonso III.
  • Ano 1279 – Morte de Afonso III. Reinado de D. Dinis.
  • Ano 1325 – Morte de D. Dinis. Afonso IV torna-se rei.
  • Ano 1357 – Morte de Afonso IV. Reinado de Pedro I.
  • Ano 1367 – Morte de Pedro I, sucede-lhe D. Fernando.
  • Ano 1383 – Morte de D. Fernando.
  • Ano 1385 – Cortes de Coimbra, o Mestre de Avis é aclamado rei como D. João I.
  • Ano 1415 – Conquista de Ceuta, expedição comandada por D. João I. Início da expansão portuguesa.
  • Ano 1433 – Morte de D. João I. Sucede-lhe seu filho D. Duarte.
  • Ano 1438 – Morte de D. Duarte. Início do reinado de D. Afonso V.
  • Ano 1481 – D. Afonso V morre e D. João II torna-se rei de Portugal.
  • Ano 1495 – Morte de D. João II. D. Manuel é aclamado rei de Portugal.
1 – PRIMEIROS DOCUMENTOS

O primeiro documento escrito conhecido que se refere a Lagos é uma carta de doação de dois casais da Lageosa ao Mosteiro de Santa Cruz em 1138. Este documento é elaborado por Gonçalo Afonso e sua esposa, onde também são referidas as atuais freguesias de Meruge, Lagares e Travanca.

A Paróquia de São João de Lagos surge nas Inquirições de Dom Afonso III que se iniciaram em 1258. No texto, diz o padre Martinho Gonçalves que o Senhor Rei é o Patrono da Igreja e toda a Vila é regalenga, isto é, terra do Rei ou da Coroa, exceto um casal que ali tem a Ordem do Hospital.

Anos antes, em 1120, Dª. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques fez a doação de uma povoação, de nome Ulvária, aos Cavaleiros da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém.

A Lageosa surge nas atas das Inquirições de Dom Dinis datadas de 1288. As testemunhas ouvidas acerca da Paróquia de São João de Lagos dizem que a Lageosa foi honra da Rainha Dona Mafalda e depois passou para as Ordens de Avis e do Hospital.

2 – UMA GRANDE PARÓQUIA

Em 1320, ainda no reinado de D. Dinis, foi elaborado o catálogo das igrejas e mosteiros do Arcidiagado de Seia e Bispado de Coimbra. A Igreja de São João de Lagos aparece no documento taxada em cem Libras. Comparando esta elevada taxa com as de outras igrejas, deduz-se que esta englobava um elevado número de cristãos de Lagos e de povoações vizinhas. Que povoações seriam, não podemos ter certezas, mas há algumas pistas. No reinado de D. João I (1385 – 1433), o padroado de Meruge estava incluído do Julgado de Lagos. Nas memórias paroquiais setecentistas aparece a Igreja Matriz da Lageosa a pertencer ao priorado de Lagos. É bem possível que essa pertença já venha de tempos remotos. Mesmo sem estas certezas sobre Lageosa e Meruge, podemos afirmar que Lagos era neste século XIV uma terra próspera e de grande importância.

3 – DOM GONÇALO ANES DE BRITEIROS


No primeiro quartel do século XIV, foi Senhor de Lagos Dom Gonçalo Anes de Briteiros, sobrinho de D. Dinis e primo do principie herdeiro D. Afonso. Dom Gonçalo era um Rico-homem. Esta designação era atribuída ao grau mais elevado da nobreza entre os séculos XIII e XV. Os Ricos-homens, detinham os principais cargos públicos, possuíam imensos bens e recebiam o título de “Dom”. Gonçalo de Briteiros exerceu funções militares como fronteiro, isto é, capitão de praça de guerra situada na fronteira. Era aí que se fazia a primeira resistência à entrada de qualquer invasor.

4 – O JULGADO DE LAGOS


Uma carta, datada de 1316, de D. Dinis dirigida ao Juiz de Lagos, indica-nos que Lagos já tinha Juiz, já era um Julgado. Esta carta obrigava os moradores de Lagos a informar Dom Gonçalo Anes de Briteiros quando eram feitas a ceifas e as vindimas, para que este mandasse um mordomo fiscalizar as tarefas e assim calcular o tributo a pagar ao Senhor.

5 – PESTE NEGRA

Em 1349, a peste negra atingiu Portugal dizimando parte importante da população. Zonas rurais como Lagos ficaram desertas, o que fez disparar os preços da mão-de-obra e, consequente aumento dos preços dos produtos agrícolas. D. Afonso IV foi obrigado a implementar as primeiras leis laborais conhecidas em Portugal. As chamadas leis pragmáticas, instituídas por este monarca, vão normalizar práticas sociais, impondo por exemplo limites no tipo de vestuário ou no número de pratos que podem ser consumidos diariamente pelas diversas classes sociais.

6 – A FIDALGA DINASTIA DOS FREIRE DE ANDRADE

Em 1422, D. João I, faz doação de Lagos, Travanca, Bobadela, Loureiro, Covas e Porto da Carne a Afonso Gomes da Silva, como reconhecimento dos seus feitos, mas estas terras não estiveram muito tempo em sua posse, visto que tomou o partido de Castela, para onde se exilou. D. João doou então todas estas terras a Gomes Freire de Andrade por gratidão por todos os serviços prestados. Assim, Lagos ficou na posse da fidalga dinastia dos Freire de Andrade até 1674.

7 – UM POTENCIAL CONCELHO

Sabemos que os Julgados, terras com Juiz, pela sua organização, são percursores dos concelhos. Note-se que este Julgado englobava já as paróquias de S. Pedro de Travanca e Santa Maria de Covas que viriam a constituir um vasto concelho.

Conclusão: Lagos conhece franco desenvolvimento e ganha grande importância nestes quatro primeiros séculos da nacionalidade.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

HISTÓRIA DE LAGOS DA BEIRA - LAGEOSA - CAPÍTULO I

CAPÍTULO I – (4000 anos a.C ao século XI) – Remotas origens




1 – LOCALIZAÇÃO


A União de Freguesias de Lagos da Beira e Lajeosa fica no concelho de Oliveira do Hospital, distrito de Coimbra. A sede da junta de freguesia está localizada em Lagos da Beira. Além da Lajeosa fazem parte da união de freguesias a Póvoa das Quartas e a Chamusca da Beira. Segundo os censos de 2021, o total das quatro povoações tem 1127 habitantes.

CRONOLOGIA DO CAPÍTULO


  • 4000 anos a.C – Povoamento da região do atual concelho de Oliveira do Hospital
  • 1000 anos a.C – Possível povoamento da região de Lagos da Beira e Lajeosa
  • Ano 218 a.C. – As legiões romanas chegam à Península Ibérica durante a Segunda Guerra Púnica.
  • Ano 409 d.C. – Suevos, alanos e vândalos invadem a Península.
  • Ano 415 – Os visigodos entram na Península.
  • Ano 476 – Queda do Império Romano do Ocidente: O Imperador Rómulo Augusto é obrigado a abdicar em favor de Odoacro, chefe militar de origem germânica.
  • Ano 585 – Fim do reino suevo e anexação ao reino visigodo de Leovigildo.
  • Ano 711 – Invasão muçulmana da Península comandado por Tárique.
  • Ano 1054 – Fernando I de Leão e Castela conquista Tarouca, Seia e Viseu.
  • Ano 1064 – Reconquista definitiva de Coimbra por Fernando Magno.
  • Ano 1096 – D. Afonso VI de Leão faz a doação do Condado Portucalense a D. Henrique da Borgonha, dando-lhe também a mão de sua filha, a princesa Teresa de Leão.
2 – UM POSSÍVEL PASSADO REMOTO

Os mais antigos testemunhos de ocupação humana na região datam de há seis mil anos. São monumentos funerários que atestam já a crença na eternidade. As antas da Arcaínha, da Sobreda e da Cavada, no norte do concelho e da Coitena, na Bobadela, foram construídas por pequenas comunidades agro-pastoris, que cultivam os terrenos férteis junto às linhas de água. Os monumentos megalíticos são o reflexo de uma sedentarização e da crença na vida para além da morte. Deste modo faziam acompanhar os defuntos com objetos diversos, tais como pontas de seta, lâminas, contas de colar ou mesmo cerâmicas. Materiais que, nos dias de hoje, nos permitem interpretar o seu modo de vida.

O planalto onde se situa Lagos da Beira terá sido povoado desde tempos remotos dada a fertilidade das suas terras, propícias à agricultura e à pastorícia. A agricultura leva as pessoas a procurarem terrenos com água. Veja-se a quantidade de povoações, vilas e cidades que cresceram às beira dos rios. Lagos da Beira, não tendo um rio, era zona de muita água. Basta olhar para o topónimo. “Lagos” deriva do latim “lacus”. Em Lagos sempre foi fácil encontrar água. Nesses tempo remotos, naturalmente formavam-se charcos e lagos alimentados por fortes nascentes que ainda hoje existem.

Refiro-me por exemplo às duas nascentes que alimentam a fonte de São João e à nascente do pequeno ribeiro que atravessa a povoação. Tais condições terão atraído habitantes. Situado na Quinta do Boco – Lagos da Beira, existe um penedo com uma escadaria de onze degraus. No final dos anos 80, Tarquínio Hall comunicou o achado ao diretor do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, Dr Mário Nunes. Deslocou-se então ao local a Dr.ª Ana Leite da Cunha (responsável por trabalhos realizados na anta da Coitena) que, após análise minuciosa, concluiu tratar-se de um santuário rupestre proto-histórico. Este testemunho pode revelar um povoamento há cerca de 3000 anos, mas carece de estudos mais aprofundados.

3 – ROMANOS

No primeiro século da nossa era, a região do atual concelho de Oliveira do Hospital passou a integrar o grande Império Romano. Profundas transformações ocorrem em toda a região, principalmente a partir de Augusto, o primeiro imperador de Roma. Explora-se o ouro nos rios Alva e Alvoco e surgem por todo o lado explorações agrícolas. Na zona da Bobadela nasceu e prosperou uma importante cidade que foi capital de uma vasta região entre as serras da Estrela, Caramulo e Açor. Algumas cerâmicas encontradas no alto de São Miguel são boas razões para acreditar que a zona de Lagos seria habitada em época romana, mas também aqui não podemos afirmar sem provas concretas.




4 – A ALTA IDA MÉDIA


No século V D.c, vários povos de origem germânica invadiram o então já cristianizado Império Romano e para a Península Ibérica vieram, nomeadamente, os Visigodos (ou Godos) que mantiveram as estruturas básicas da romanização, assim como o culto cristão.

No ano 711 d.C. a invasão da Península Ibérica pelos mouros do Norte de África, destruiria a monarquia visigótica que se irá refugiar ao norte da Península Ibérica, constituindo o Reino das Astúrias, antecedente dos futuros reinos hispânicos, gerando séculos de conflito entre os novos ocupantes muçulmanos e os referidos reinos cristãos. Coimbra e Seia (onde se incluía o território de Lagos da Beira) estiveram por esse motivo, sob uma intermitente ocupação muçulmana até ao século XI (1064), data em que foram definitivamente recuperadas para o domínio cristão sob o comando de Fernando Magno, unificador dos reinos de Leão, Castela e Galiza. Uma testemunha desse tempo na região é a magnífica Igreja Moçárabe de Lourosa.

5 – O POVOADO DE LAGOS

São dessa época as sepulturas escavadas na rocha situadas em Lagos (Mata das Forcas e Salgueiral) e Chamusca (Soitinho). Estão datadas da alta idade média. Isto é, entre os séculos VII e X. Talvez já existisse aqui um povoado de agricultores que talvez já se chamasse Lagos, mas a distância entre as sepulturas também sugere um povoamento disperso. O mesmo acontece na Lageosa onde existe uma necrópole composta por sete sepulturas, mas que seriam pelo menos doze.

Conclusão: Sem certezas de origens mais remotas, podemos afirmar que Lagos da Beira, tal como a Lageosa, têm pelo menos mais de mil anos de História.