CAPÍTULO II – (século XII a século XV) – A Paróquia, o
Julgado e a Fidalga Dinastia dos Freire de AndradeCRONOLOGIA DO CAPÍTULO
- Ano 1128 – Batalha de S. Mamede. D. Afonso assume o governo do condado.
- Ano 1139 – Batalha de Ourique. D. Afonso é aclamado rei.
- Ano 1140 – Afonso Henriques usa o título de Rei oficialmente.
- Ano 1143 – Tratado de Zamora. Acto de vassalagem de Afonso I ao Papa.
- Ano 1179 – O Papa reconhece o reino de Portugal pela bula Manifestis Probatum.
- Ano 1185 – Morte de D. Afonso Henriques. Sucede-lhe seu filho D. Sancho.
- Ano 1211 – Morte de Sancho I, sucede-lhe Afonso II.
- Ano 1223 – Morte de Afonso II, sucede-lhe o filho Sancho II.
- Ano 1248 – Início do reinado de Afonso III.
- Ano 1279 – Morte de Afonso III. Reinado de D. Dinis.
- Ano 1325 – Morte de D. Dinis. Afonso IV torna-se rei.
- Ano 1357 – Morte de Afonso IV. Reinado de Pedro I.
- Ano 1367 – Morte de Pedro I, sucede-lhe D. Fernando.
- Ano 1383 – Morte de D. Fernando.
- Ano 1385 – Cortes de Coimbra, o Mestre de Avis é aclamado rei como D. João I.
- Ano 1415 – Conquista de Ceuta, expedição comandada por D. João I. Início da expansão portuguesa.
- Ano 1433 – Morte de D. João I. Sucede-lhe seu filho D. Duarte.
- Ano 1438 – Morte de D. Duarte. Início do reinado de D. Afonso V.
- Ano 1481 – D. Afonso V morre e D. João II torna-se rei de Portugal.
- Ano 1495 – Morte de D. João II. D. Manuel é aclamado rei de Portugal.
O primeiro documento escrito conhecido que se refere a Lagos é uma carta de doação de dois casais da Lageosa ao Mosteiro de Santa Cruz em 1138. Este documento é elaborado por Gonçalo Afonso e sua esposa, onde também são referidas as atuais freguesias de Meruge, Lagares e Travanca.
A Paróquia de São João de Lagos surge nas Inquirições de Dom Afonso III que se iniciaram em 1258. No texto, diz o padre Martinho Gonçalves que o Senhor Rei é o Patrono da Igreja e toda a Vila é regalenga, isto é, terra do Rei ou da Coroa, exceto um casal que ali tem a Ordem do Hospital.
Anos antes, em 1120, Dª. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques fez a doação de uma povoação, de nome Ulvária, aos Cavaleiros da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém.
A Lageosa surge nas atas das Inquirições de Dom Dinis datadas de 1288. As testemunhas ouvidas acerca da Paróquia de São João de Lagos dizem que a Lageosa foi honra da Rainha Dona Mafalda e depois passou para as Ordens de Avis e do Hospital.
2 – UMA GRANDE PARÓQUIA
Em 1320, ainda no reinado de D. Dinis, foi elaborado o catálogo das igrejas e mosteiros do Arcidiagado de Seia e Bispado de Coimbra. A Igreja de São João de Lagos aparece no documento taxada em cem Libras. Comparando esta elevada taxa com as de outras igrejas, deduz-se que esta englobava um elevado número de cristãos de Lagos e de povoações vizinhas. Que povoações seriam, não podemos ter certezas, mas há algumas pistas. No reinado de D. João I (1385 – 1433), o padroado de Meruge estava incluído do Julgado de Lagos. Nas memórias paroquiais setecentistas aparece a Igreja Matriz da Lageosa a pertencer ao priorado de Lagos. É bem possível que essa pertença já venha de tempos remotos. Mesmo sem estas certezas sobre Lageosa e Meruge, podemos afirmar que Lagos era neste século XIV uma terra próspera e de grande importância.
3 – DOM GONÇALO ANES DE BRITEIROS
No primeiro quartel do século XIV, foi Senhor de Lagos Dom Gonçalo Anes de Briteiros, sobrinho de D. Dinis e primo do principie herdeiro D. Afonso. Dom Gonçalo era um Rico-homem. Esta designação era atribuída ao grau mais elevado da nobreza entre os séculos XIII e XV. Os Ricos-homens, detinham os principais cargos públicos, possuíam imensos bens e recebiam o título de “Dom”. Gonçalo de Briteiros exerceu funções militares como fronteiro, isto é, capitão de praça de guerra situada na fronteira. Era aí que se fazia a primeira resistência à entrada de qualquer invasor.
4 – O JULGADO DE LAGOS
Uma carta, datada de 1316, de D. Dinis dirigida ao Juiz de Lagos, indica-nos que Lagos já tinha Juiz, já era um Julgado. Esta carta obrigava os moradores de Lagos a informar Dom Gonçalo Anes de Briteiros quando eram feitas a ceifas e as vindimas, para que este mandasse um mordomo fiscalizar as tarefas e assim calcular o tributo a pagar ao Senhor.
5 – PESTE NEGRA
Em 1349, a peste negra atingiu Portugal dizimando parte importante da população. Zonas rurais como Lagos ficaram desertas, o que fez disparar os preços da mão-de-obra e, consequente aumento dos preços dos produtos agrícolas. D. Afonso IV foi obrigado a implementar as primeiras leis laborais conhecidas em Portugal. As chamadas leis pragmáticas, instituídas por este monarca, vão normalizar práticas sociais, impondo por exemplo limites no tipo de vestuário ou no número de pratos que podem ser consumidos diariamente pelas diversas classes sociais.
6 – A FIDALGA DINASTIA DOS FREIRE DE ANDRADE
Em 1422, D. João I, faz doação de Lagos, Travanca, Bobadela, Loureiro, Covas e Porto da Carne a Afonso Gomes da Silva, como reconhecimento dos seus feitos, mas estas terras não estiveram muito tempo em sua posse, visto que tomou o partido de Castela, para onde se exilou. D. João doou então todas estas terras a Gomes Freire de Andrade por gratidão por todos os serviços prestados. Assim, Lagos ficou na posse da fidalga dinastia dos Freire de Andrade até 1674.
7 – UM POTENCIAL CONCELHO
Sabemos que os Julgados, terras com Juiz, pela sua organização, são percursores dos concelhos. Note-se que este Julgado englobava já as paróquias de S. Pedro de Travanca e Santa Maria de Covas que viriam a constituir um vasto concelho.
Conclusão: Lagos conhece franco desenvolvimento e ganha grande importância nestes quatro primeiros séculos da nacionalidade.